quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Sexta-feira - Guilherme Simon

No meio do ano passado eu comecei um curso de inglês que me obrigava a pular
da cama muito cedo aos sábados. E não há nada mais inglório na vida de um
homem do que ter que acordar muito cedo num sábado de manhã. Na verdade, em
qualquer dia da semana acordar muito cedo é algo que contraria as leis
divinas. No entanto, a gente acaba se acostumando, por conta das atividades,
inerentes ao sistema, que somos obrigados a desempenhar. As manhãs de
sábado, porém, não podem seguir essa linha de raciocínio porque não há nada
que justifique a alteração da sua finalidade única, e também porque o ato de
acordar muito cedo numa manhã de sábado embute um pecado imperdoável: isso
acaba com a sexta-feira.

Eu já declarei a alguns amigos próximos o meu amor para com as
sextas-feiras. Aliás, devido a isso, fiquei sabendo que muitos deles também
têm esse mesmo amor, coisa que não é muito difícil de se explicar. Todo
mundo gosta da sexta-feira. Porque na sexta-feira não há pecado que não
valha a dor da punição. Porque a sexta-feira tem um quê de eternidade.

O sábado é apenas um dia depois da sexta-feira, que perde a sua magia por
conta do domingo. Enquanto os homens velam o domingo porque o próximo nascer
do sol apontará a segunda, a sexta-feira exala a juventude dos vinte e
poucos anos. A segunda-feira mata o domingo e o domingo diminui a beleza do
sábado. Mas com a sexta-feira não tem nada disso. Depois da sexta-feira é
dia de festa e depois é dia de descanso, e podemos comemorar um futuro sem
nada para fazer. Podemos simplesmente comemorar o futuro.

Na sexta-feira tudo se torna mais agradável. As pessoas saem de suas casas
para trabalhar mais felizes. As crianças vão para escola com os deveres
feitos e as namoradas e os namorados se perfumam um pouco mais que o
habitual. A dona-de-casa deixa o chão da casa mais limpo. Os senhores e as
senhoras de idade se sentem mais jovens. Os políticos roubam um pouco menos.
E os poetas se inspiram um pouco mais. Há mais festas, mais beijos e mais
cerveja. Vinícius de Moraes escreveu "Porque hoje é sábado" numa
sexta-feira.

No ano passado eu aprendi enfim a dar o devido valor às minhas
sextas-feiras. Agora não faço mais o tal curso de inglês e não sou mais
obrigado a acordar cedo no sábado. A sexta é minha de novo. Devo dizer,
aliás, que a cada sexta-feira vivida eu tenho mais certeza de que se todas
as feiras fossem sextas os nossos dias seriam mais nossos.

2 comentários:

Unknown disse...

Tinha que ser o Guilherme mesmo neh hehehe
Adoro os textos dele...
Sabe neh, fã de carteirinha.
bjs

Juliana Ribeiro disse...

Muito bom o texto... adoreiiiiii!
Parabéns Gui!
Sabe que lendo esse texto eu fico lembrando daquele Guiherme de uns anos atrás que passava quase todos os dias pela minha sala e muitas vezes ficava batendo papo comigo.hehehhe Parabéns menino.
Ahhh... ainda bem que eu faço parte da sua sexta-feira! hehhehe

Beijo