Quarta-feira, vinte e nove de agosto. Há uma semana eu carrego, no meu já cansado corpo, a dor, o desgaste e a sensação de ter levado uma surra. Quando acordei essa manhã podia crer que passei a noite enfiada num camburão da PM levando cacetadas. Era o que parecia, mesmo sem nunca ter passado por tão agradável experiência. A questão é que o maldito resfriado não desgruda e tudo em mim dói. Pensei que seria impossível piorar, até que a minha falta de anticorpos me surpreendeu mais uma vez.
Rastejei até o trabalho. Jornal de Bairro nunca pareceu tão distante. Foi então que me sobreveio um pensamento. Estou até agora querendo saber por que, bem no dia de hoje, arranjei tamanha sarna sem que tivesse ao menos forças para coçá-la. “Preciso escrever alguma coisa!” Maldita idéia a minha! Meus planos para a quarta-feira eram: não voltar para casa no intervalo do almoço e estudar, também me esforçar para resolver metade das trezentas coisas que estavam (e ainda estão) pendentes.
Seria um típico dia daqueles em que você se levanta, admira a própria cara e o cabelo levantado no espelho, e se pergunta: por que eu tenho que levantar daquela droga de cama? Não que a cama seja uma droga, ela até que sabe ser bem especial, principalmente nos dias de inverno, mas no momento da ira, tudo o que nos rodeia acaba levando adjetivos que nos fariam cair no conceito de qualquer avó. Piores que o citado na frase anterior, na maioria das vezes.
Radiojornalismo que me perdoe, pois estudei com a cabeça voltada para o teclado e suas atraentes letras. A vontade de escrever era insuportável. Precisava pensar com as mãos, dar a luz, vomitar qualquer frase, palavra, que seja. É como um sentimento de saudade do que ainda não foi vivido. Ou gozar do prazer de já ter lido o que ainda não invadiu tela alguma. Tanto a dizer, pensar, escrever.
Isso ficaria para mais tarde, se me sobrasse tempo. Mercadoria rara, cara. Poderia adiar minha auto-obrigação para o domingo, já que é um dia inútil, sempre com a mesma cara de segunda misturada com terça-feira, não sei o que é pior. Não, domingo não! Correria o risco de macular um texto que prometia tanto com a cor enjoada do domingo. Quem sabe no sábado, ou por que não na sexta-feira? Ah a sexta-feira...
Deixa pra lá! Falta saber sobre quê escrever. Perto das cinco horas da tarde, sem almoçar, já sentindo a noite se aproximar e com ela suas trevas, adicionadas às minhas limitações momentâneas, não havia como me dar ao luxo de escolher um ‘sobre’.
Definitivamente nocauteada, forças esgotadas, uma criatura feminina fragilizada ao ponto de envergonhar Rita Lee, forçando-a a abandonar aquela canção – como é mesmo o trecho? – “sou mais macho que muito homem”, esse mesmo. Para completar o quadro, minhas alergias se uniram à gripe, à infecção de garganta, às dores de cabeça. Um banho quente ajuda, sempre ajuda. Enquanto a água fervente caia sobre mim e embaçava todo o banheiro eu pensava. Nem que fosse para contar a trajetória de uma gota d’água escorrendo no azulejo eu precisava escrever. Era a minha obsessão daquela quarta-feira. Todos os dias tenho uma. É parte da rotina. Agora faz muito frio. Quando me movimento debaixo do chuveiro, partes do meu corpo se afastam da água então vejo os pêlos arrepiarem. Desliguei. Puxei rapidamente a toalha como num golpe, trazendo junto com ela aquele ventinho gelado. Em voz alta digo: mais tarde escrevo sobre alguma coisa, qualquer coisa.
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
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